quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Silêncio...

    

              Sshhhhh..é bom estar a sós, com a gente mesmo. Eu não quero conversar, hoje não. Hoje não quero nada, nem compreensão, nem respostas.
               Esta frio, estou circunspeta, estou racional e não adianta, não estou achando nada engraçado. Acho tudo uma "babozeira", não lerei nenhum poema. Não quero saber do mundo! Não quero saber de você!   
             Tem dias que é assim...nem feliz e nem triste....fica sem sal, é um destempero e a poesia mesmo.... viajou para um cômodo qualquer de mim, pode até ser a sola do pé, e de lá não sai de jeito maneira. Eu estou sem boas maneiras, sem boas intenções.
             Mas eu falei em você! E não devia...está aí a razão...sua ausência definitiva destempera meu humor!
    

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quando a noite chegou sobre Tereza


















Tereza 24, Zé 46 e entre eles a diferença não era só na idade. Ela falava, ele retrucava. Ele gritava, ela nem de longe permanecia em silêncio. Era assim, num dia muitas brigas, e pra essas ocasiões, Zé sempre usava um bordão: "Um dia me arranco dessa casa”! E quando tudo acalmava, choviam arrependimentos e beijos e ninguém mais falava em ir embora.
Zé, era sentimental, e algumas vezes guardava uma lágrima no canto dos olhos. Era misterioso, pouco falava de sua história. Era engraçado e disfarçadamente expunha suas idéias românticas. Ele era um sonhador.
Tereza, geniosa, mulher de fibra, que não chorava por pouco, lidava com  os percalços da vida com coragem e fé. Com os pés no chão ia a luta, poucas vezes se permitiu fragilidade.
Zé era um contador de historias nato, tinha a habilidade como ninguém de "floriar" os fatos, e pra isso empregava seus neologismos e onomatopéias, e assim, instalava os sonhos na cabeça de seus  filhos. Ele pensava que não os veria em idade adulta, em decorrência de ter se tornado pai em idade avançada.
 Muitas vezes, Zé se sentia só, porque era de sua natureza, era uma criança no corpo de um homem, sua vontade era de colo. Tereza não tinha tempo, ela andava muito atarefada, seu trabalho era desgastante, muitos afazeres e por fim o resultado era cansaço e falta de paciência. Era brigona sim, e Zé se ofendia fácil, e embora se amassem a convivência estava longe de ser pacífica. E assim os anos foram se passando, e ele acreditava que um dia, ela iria embora e ela uma vez lhe disse: "Só a morte nos separa".
Ele não entendia que o amor era feito de doação, ele ainda pensava como se pensa um jovem na flor da idade, que o amor é empolgação e vertigem, dessas loucuras que arrastam dois corpos nos cantos das ocasiões. Ela sabia que amor é cuidado, proteção, mais que querer bem e acima de qualquer coisa. Ela sabia.
É necessário dizer, que eram companheiros, nenhum dos dois permitia que o outro estivesse só, em casa. Um sempre aguardava a chegada  do outro e se acaso ocorressem atrasos, era motivo de preocupação. Certa vez ele rezou muito, quando ela precisou fazer uma pequena cirurgia. Ele tinha medo da fragilidade da vida. E ela o via como forte.
            Quando já tinham muitos anos de casados, numa manhã de sábado,  Zé não pode se erguer sobre suas próprias pernas, precisou de Tereza. Ele não sentia as pernas, precisava ser atendido por um médico e enquanto a ajuda não chegava, ela o trocou com todo zelo, e ele percebendo o que  acontecia,  balbuciou: - Que situação...
E para confortá-lo, ela disse olhando nos seus olhos espelhados, que sempre contavam o que seu dono sentia: - Fique tranquilo, esse é o amor sobre qual eu sempre lhe falei...um cuidar do outro....- concluiu ela enquanto terminava de vesti-lo. Ela penteou os cabelos brancos e ralos dele, passou a mão sobre sua face e o acompanhou quando ele saiu carregado porta afora, deixando aflitos os que ficavam em casa.
 As horas foram passando, adentrou a noite, a madrugada, até que Tereza pegou no sono, mas acordou de sobressalto, porque ouviu a voz dele chamar por ela, era um sonho, ou pesadelo? Ela não dormiu mais e ele dormiu pra sempre. Então ela soube de fato o que era estar só.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Quando alguém parte

     
                 Desde o dia em que você partiu, tudo aqui ficou diferente, passamos a esperar o seu retorno.  Você costumava chegar perto das cinco horas, esse hábito ficou pra nós, ficou também, um  buraco enorme que era preenchido pela sua alegria e seu jeito único de ser. Teu rosto rosado, que se alegrava com a minha chegada, ficou como uma fotografia que fora capturada pelas minhas lembranças.
            Hoje em dia, se cria a ilusão de que contemplaremos teus olhos cinzas novamente, que afagaremos teus cabelos branquinhos feito a neve, mas é só um jeito de te manter aqui, é uma saudade imagética e porém, mais viva.
                 Eramos completos, eramos felizes e agora é tudo diferente. Diferente porque você não está, e isso causa  saudade. E essa saudade, aos poucos se tornou bonita e só te recordamos com riso nos lábios. 
               As coisas mudaram por aqui, as mangueiras foram cortadas, e com elas se foram as orquídeas, em seu lugar cresce um  muro feio de concreto. A casa ficou maior, as bananeiras também foram cortadas e confesso, protestei, mas não deu jeito! Sabe...  Isso me fez pensar em como tudo muda. Os espaços vão sendo modificados e neles cabem tantas lembranças e penso que esses espaços são mantidos sem modificações, só mesmo dentro da gente, nas  recordações. E assim você sempre  vai estar presente, e não importa o quanto as coisas mudem, o amor permanece, e isso também é fato.

Acaso

          Ela o avistou do outro lado da rua, ele estava distraído e não viu quando ela acenou com a mão. Ela gritou e ele estava como fone nos ouvidos, provavelmente ouvindo uma de suas músicas preferidas. Ele a teria reconhecido de imediato se não estivesse tão ocupado com uma dor estranha, dessas que se alojam na alma e deixam o corpo doente. Os olhos dela estavam fixados nos passos que ele dava em sua direção e nesse momento ela acreditou que ele ouvirá seu chamado. Seus passos vinham em câmera lenta, como nessas cenas de cinema, e ela estática, quase sorrindo, viu ele passar do lado, absorto em conjecturas que nunca teriam respostas. Ela no entanto não era dessas moças frágeis que choram a toa. Mas era puro sentimento, tinha poesia na alma. Quanto  a ele, ela nunca soube de fato quem era. E naquela mesma tarde, ela se refugiou em seu quarto. Era tudo que possuía, suspiros contidos que foram convertidos em palavras e resumidas nas estrofes de um texto, de uma poesia.

Como se sente?




La fora uma chuvinha, tão calma que parece cantar
Aqui um frio se remoendo
Perto de você um medo de que o vento corra.

Acima das nossas cabeças nuvens e dentro delas também
No peito um aperto que não chega a ser dor
Chega a ser qualquer coisa
E no entanto não é nada.

E distante daqui e de qualquer lugar
Um abismo sufoca alguém
Que não dorme...
É que lhe a batem a porta
Idéias de coisas inacabadas.

Mas que dia triste o seu!
 E entediamente pra mim,
E pra ele, eu não sei.

Que sina! Que ideia!
Com tudo, sei que estás
Descalço e não receberás visitas.

Há uma direção...
Tenho estradas e quem não as têm?
Teus olhos estão vendados
E o meus tocam o horizonte.